Geovane Rocha - Comunicador Popular da Cáritas Diocesana de Almenara, Jequitinhonha/MG.
Foto: Geovane Rocha |
Sabedoria é algo comum para Adão. “Seu Adão”, como é mais
conhecido, é assentado do Assentamento Campo Novo na cidade de Jequitinhonha/MG
desde 2001, e sempre nos transmite um saber que poucos doutores e “sabidos” que
se tem por ai conseguem fazer. Sua história de vida misturada com a luta pela
terra e pela produção sustentável na região, e falar de resistência e
organização no município sem falar desse camponês não tem como.
Seu Adão sempre participou ativamente da vida da comunidade. Seu
envolvimento começou na CEB’s, Comunidade Eclesiástica de Base, organização que
foi porta de entrada em 1988 para o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Jequitinhonha, onde foi presidente, para a Cáritas Diocesana de Almenara, sendo
atualmente o vice-presidente, para a presidência da Associação da Escola
Família Agrícola que está sendo construída no assentamento e membro
fundador da Associação dos Feirantes de Jequitinhonha, a ASFEJE.
Hoje ao ver os movimentos pela conquista da terra e como era
na sua época de sindicato, Seu Adão fala que “hoje querem fazer reforma agrária
por telefone e pela internet, mas o problema do trabalhador tem que resolver é lá
no campo”. Mesmo participando do Sindicato que não tinha estrutura básica, como
um carro, as necessidades dos trabalhadores e trabalhadoras sempre eram
resolvidas, mesmo que tivesse que percorrer os locais de bicicleta para isso,
como no caso dos assentamentos que ajudou a organizar. No seu tempo de
militância sindical conseguiram assentar agricultores e agricultoras de
Jequitinhonha na fazenda do Brejão, o Transval e Campo Novo, além de São Miguel
das Roças Grandes que tem um caráter mais popular, pela Igreja e Sindicato ter
adquirido a terra e distribuíram para as famílias.
Foto: Geovane Rocha |
E como um amante da terra, Seu Adão produz alimentos de forma
agroecológica em sua área, de aproximadamente 20 hectares. Ele diz que ele “é
tipo um animal, roda muito a área mexendo na terra, pois toda a terra já foi
horta e como a horta vai agredindo muito a terra, ele sempre planta em todo
lugar”. Duas vezes por semana ele leva seus produtos para feira da cidade,
mesmo que se preciso carregá-los de bicicleta nos 20 quilômetros entre o assentamento
e a cidade.
E produzir nunca foi um problema para ele, pois para melhorar
sua produção de tomate, pimentão, alface, mandioca, banana, milho, mamão,
cebola, cebolinha, coentro, coentro-do-reino, salsinha, caju, feijão, pimenta e
tantos outros, ele construiu uma Estufa Agrícola sozinho, buscando para isso uma
parte do financiamento no Fundo Rotativo Solidário. Como é um conhecedor do
meio onde vive, o semiárido mineiro, sempre produz utilizando as fontes de água
que têm no assentamento, instalando então um sistema de irrigação por
microasperção na Estufa e um sistema de gotejamento em uma parte de sua lavoura
a céu aberto.
Perguntado quem ensinou as práticas para desenvolver suas
lavouras, ele responde: quem “me ensinou foram as andanças mundo afora!” E
graças a estas andanças teve oportunidade de conversar com agricultores e
agricultoras de outros locais, assistir palestras e ter contato com livros e
apostilas de muitos temas da agricultura orgânica. Mas seu conhecimento não é
só pelo que aprendeu com outras pessoas, Seu Adão sempre procura aprimorar o
que tem. Por exemplo, o substrato que ele produz para as mudinhas de hortaliças
ele procura dar uma enriquecida com casca de ovo triturado, que consegue
fazendo parcerias com as padarias de Jequitinhonha. Com essa e outras práticas
ele não precisa mais comprar nenhum insumo de fora, principalmente as sementes
que sendo crioulas, ele mantém guardado ou consegue trocar com os/as
vizinhos/as para plantar.
Foto: Geovane Rocha |
Mas apesar de cultivar muitas espécies, ele sabe muito bem o
que planta. Não sai plantando, por exemplo, tomate no meio do ano. Isso porque
nesta época é mais comum encontrar outras pessoas vendendo tomate também, e por
isso ele escolhe muito bem qual planta vai cultivar e em qual época do ano para
não atrapalhar e nem ser atrapalhado na venda do alimento.
Com toda sua experiência (e sabedoria) de vida, sabe que a
alegria e satisfação estão juntas da dedicação na organização social e na
produção agroecológica de verdade, já que, segundo ele, “o orgânico que os
governos querem que plantemos é tudo fabricado, pra esses tem que usar adubo e
sementes que não é natural, mas é produzido pelas empresas.”