"A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar."

Dom Hélder Câmaraâmara

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Quilombolas e MST juntos na luta pela Terra – Um relato da audiência pública sobre a situação das comunidades no Baixo Jequitinhonha: Quilombolas Marobá dos Teixeiras e 16 de Abril/MST de Almenara MG.


 Por Dashiell Dayer - Cáritas Diocesana Baixo Jequitinhonha, junto com o MST e Quilombolas. 

                                                                  

A audiência ocorreu dia 16/12, com a participação da comunidade quilombola Marobá dos Teixeiras e Acampamento 16 de abril/MST, entidades da sociedade civil, representantes do Incra, do Ministério Público mineiro, Polícia Militar, Pastorais da Terra,  deputados estaduais, vereadores e secretários municipais do Baixo Jequitinhonha. O evento ocorreu na Câmara Municipal de Almenara-MG.    






Foi aprovado no ministério público, o relatório de demarcação da terra quilombola Marobá dos Teixeiras. Agora, a medida vai para a fase de contestação das partes envolvidas. Caso os donos ilegítimos das terras discordem, haverá a decisão judicial aprovando ou reprovando a contestação. Após esse processo, o relatório vai a assinatura da presidente, compra das terras pelo estado e entrega da certificação das terras aos quilombolas. Esperava-se uma maior rapidez, mas segundo o superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Danilo Daniel Prado, vai demorar mais ou menos um ano a legitimação das terras ao quilombo Marobás.O superintendente do Incra ficará dois dias após a audiência, vistoriando as fazendas e analisando a possibilidade de compra das terras.
 Foi positivo pelas denúncias realizadas, principalmente junto ao poder público. Ficou claro que o Ministério Público, pelo menos na fala do coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Conflitos Agrários, o procurador Afonso Henrique de MIranda Teixeira  (abaixo à esquerda, falando ao microfone), que denunciou o Poder Judiciário mineiro. O procurador afirmou que o juiz da Vara Agrária, Otávio Almeida Neves, criminaliza trabalhadores rurais, desconsidera as terras de relevância pública, não aborda a função social da terra e ainda diz que não há terras devolutas ou conflitos agrários em Minas Gerais. O procurador entrou com representação contra o Judiciário Mineiro por prejudicar os trabalhadores, quilombolas e indígenas que lutam pelo acesso à  terra. 

Porém, a realidade é outra : “ Na verdade 80% das terras em Minas são devolutas e não está em questão a formalização de quem tem a terra, mas o direito constitucional que assegura o direito às comunidades tradicionais e aos trabalhadores sem-terra. O Ministério público comprou essa briga ao lado dos trabalhadores, e enquanto nossos corações estiverem batendo, vamos lutar. Com sangue ou sem sangue não vamos parar de lutar!!”. 
Importante informação esclarecida pelo Dr. Afonso é que, no julgamento de reintegração de posse de uma terra ocupada, por exemplo, é necessário a presença do ministério público e/ou do Incra no tribunal. Contudo o Ministério Público tem adotado a estratégia de não legitimar o juízo, não comparecendo aos julgamentos. Porém o Incra, que tem facultada sua presença, comparece sempre e legitima as ações de desapropriação e despejo. Resta a reflexão, de que lado o Incra está?
Segundo Eni, do acampamento Terra Prometida/Felizburgo e liderança histórica do MST na região, o que aconteceu no 16 de abril e no quilombo dos Marobás dos Teixeiras está relacionado às injustiças no campo. Um caso lembrado por ela foi o massacre ocorrido com sua comunidade em que, cinco companheiros morreram e outros tantos ficaram feridos. O julgamento do réu confesso – Adriano Shafik demorou mais de 8 anos para ocorrer e até hoje, mesmo condenado a 115 anos de cadeia pelas mortes, não está preso. Essa permissividade e falta de justiça no campo, contribui para que as leis não sejam cumpridas e tampouco respeitadas.
 Resta-nos continuar nossa luta, pressionando o poder público, denunciando e ocupando as terras que nos são de direito e das quais dependemos para trabalhar e cuidar de nossas famílias.
Muitas foram as denúncias feitas. São 25 anos de Constituição Federal e mais 10 anos de divulgação ostensiva dos problemas enfrentados pelas comunidades em Almenara. A vida das famílias campesinas no entanto, em nada melhorou. Barracos de lona, falta de saneamento básico, saúde precária, incerteza do futuro, agressões e ameaças. Esse é o projeto de nação que o governo de Minas e Federal nos propõe?


Nossa luta é a apropriação e formulação de um projeto de nação que queremos. Mais justa, solidária, diversa e livre. Certamente!





quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A ARTICULAÇÃO SEMIÁRIDO DO BAIXO JEQUITINHONHA – ASA – FAZ UM MOMENTO DE AVALIAÇÃO E PLANEJAMENTO DE SUA ATUAÇÃO



Por Geovane Rocha - Comunicador Popular da Cáritas Diocesana de Almenara, Jequitinhonha/MG

Foto: Geovane Rocha
A Articulação Semiárido do Baixo Jequitinhonha, a ASA, promoveu um momento de avaliação de suas atividades realizadas na região neste ano e um planejamento para o próximo. Este momento de reflexão, o I Encontro das Comissões Municipais da Articulação do Semiárido no Baixo Jequitinhonha, foi realizado nos dias 06 e 07 de dezembro na cidade de Almenara, e contou com a participação de aproximadamente 40 pessoas entre as entidades parceiras da ASA do Baixo Vale do Jequitinhonha e a Cáritas enquanto programas de execução das tecnologias sociais da ASA, em seus 02 programas executados do P1MC, Programa Um Milhão de Cisternas, e 01 do P1+2, Programa Uma Terra e Duas Águas.

Foto: Erikson Jardim
Este encontro também foi marcado por um momento de reflexão sobre a os direitos humanos e a situação da desigualdade social em nossa região, que segundo Samuel Silva é a região mineira que apresenta maior diferença sócio-econômica do estado mineiro. Decanor Nunes faz a análise que “na região onde há maior desigualdade, há um grande número de organizações sociais e elas não conseguem dialogar entre si e ir ao encontro à necessidade do Povo". Com esta oportunidade foi dado um “pontapé” na Campanha Mundial da Cáritas em nossa região, ‘Uma família humana, pão e justiça para todas as pessoas’. Sobre a situação de desigualdade e pobreza na região, Samuel afirma que "Pobreza é a falta de acesso a direitos básicos, principalmente nesta sociedade capitalista extremamente monetarizada".

Foto: Geovane Rocha
Ao fim do Encontro, foi realizado um momento de avaliação e planejamento de acordo com o olhar de cada atuante na ASA: os animadores sociais, o setor técnico-administrativo e a coordenação dos projetos juntamente as entidades parceiras. Este processo foi acompanhado ao final por um debate e uma análise coletiva da ASA na região. Para Vanessa Ayres, membro do P1+2, este processo foi importante “para que os acertos se tornem cotidianos, os erros não se repitam e as dificuldades sirvam para engrandecer esta caminhada”.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

CÁRITAS INICIA UM NOVO PROJETO COM FAMÍLIAS CAMPONESAS DE FELISBURGO, O "MUTIRÕES DA TERRA"

Por Geovane Rocha - Comunicador Popular da Cáritas Diocesana de Almenara


Melhorar a qualidade de vida de famílias camponesas a partir da promoção da soberania alimentar, ampliação da produção agroecológica e fortalecimento do acesso a mercados locais, esse é o principal objetivo do “Mutirões da Terra”, o novo projeto desenvolvido pela Cáritas Diocesana de Almenara com o patrocínio da PETROBRAS, através do PROGRAMA PETROBRAS DE DESENVOLVIMENTO E CIDADANIA. Essa iniciativa, que começou em agosto de 2013, será desenvolvida em duas comunidades rurais do município de Felisburgo/MG, território da cidadania do Baixo Vale do Jequitinhonha: a comunidade Terra Prometida (área de reforma agrária do MST) e a comunidade Quilombola do Paraguai. A construção da proposta se deu a partir das demandas apresentadas pelas 105 famílias que vivem nas comunidades durante as assembleias promovidas pela Cáritas em 2012. Serão desenvolvidas neste projeto estruturas produtivas integradas que envolverão a criação de aves e abelhas e o cultivo de hortaliças junto as famílias, tendo como princípios norteadores a Agroecologia e a Soberania Alimentar e Nutricional.

Foto: Dashiell Dayer
O projeto terá também um foco no fortalecimento dos meios de comercialização já adotados pelas famílias participantes, como a feira livre que, ocorre semanalmente na cidade, e o fornecimento dos alimentos via PNAE, programa que garante que pelo menos 30% dos produtos adquiridos para a merenda escolar sejam oriundos da agricultura familiar. Estas estratégias de comercialização tem como princípio a Economia Popular Solidária, e objetivam ampliar a renda das famílias, fortalecer as organizações comunitárias locais, e proporcionar alimentos de qualidade para a população de Felisburgo. Além das atividades familiares, estão previstos a instalação de estruturas produtivas coletivas que envolvendo cada uma das atividades trabalhadas. Serão construídos uma fabriqueta comunitária de ração em cada localidade, que representará a autonomia das famílias em relação a alimentação de seus animais; a implantação de um campo comunitário de produção de sementes de hortaliças, fortalecendo assim as casas de sementes e garantindo a agrobiodiversidade; e por fim o beneficiamento de produtos da apicultura nas Casas de Mel que já existem nas comunidades, onde serão adequadas as instalações à legislação sanitária e serão adquiridos novos equipamentos.

Diversas estratégias de comunicação serão utilizadas com o objetivo de sensibilizar a população de Felisburgo sobre a importância de consumir produtos da agricultura camponesa, tanto por representarem alimentos de qualidade e sem o uso de venenos, quanto pelo fato de que ao comprarem tais alimentos estão fortalecendo a economia local, ampliando circulação de recursos e serviços no município. São estratégias de comunicação adotados no projeto Mutirões da Terra a veiculação de programas e spots de rádio, publicação de materiais escritos através de cartilhas, publicações de notícias na internet via redes sociais e página institucional da Cáritas, e a realização de seminários municipais de educação alimentar. 

Foto: Maria Eliza
Segundo Jorge Rodrigues, morador da comunidade Terra Prometida e participante do Mutirões da Terra, o assentamento está “com uma expectativa muito boa por este projeto tender a reforçar os meios de comunicação com a comunidade, essa questão da produção sempre une as famílias e anima elas. É legal porque você produz mais e melhor, e o quadro produtivo, avançando nessa questão de não ter atravessadores, é melhor por que nós que vendemos. É preciso criar um elo de sustentabilidade do consumidor com o produtor, aumentando o contato direto com o consumidor”. Ele completa seu relato compartilhando um anseio pessoal, “quem sabe não surge até uma casa de comercio pra nós aí né!?”.


Foto: Maria Eliza
O projeto Mutirões da Terra contribuirá também com as discussões sobre o destino adequado de resíduos, incentivando a redução da produção de lixo, reaproveitamento e reciclagem. Para isso, além da utilização dos meios de comunicação está sendo instalada uma lixeira de coleta seletiva em sua sede, para uso da população.

Com muita animação e um espírito de coletividade e trabalho em mutirão, a Cáritas Diocesana de Almenara conta com novos/as Agentes Cáritas para desenvolvimento destes trabalhos, sendo dois auxiliares administrativos/as, um comunicador popular e dois técnicos/as de campo. São eles/as Dashiell Dayer, Fabiana Gil, Geovane Rocha, Patrícia Andrade, Vladimir Dayer.