"A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar."

Dom Hélder Câmaraâmara

sexta-feira, 4 de abril de 2014

AS VOZES DA LIBERDADE E A DITADURA CIVIL-MILITAR NO VALE DO JEQUITINHONHA



 Por Erikson Jardim - Cáritas Diocesana Baixo Jequitinhonha
O dia 1º de abril de 1964 marca uma triste página da nossa história. O início de um regime ditatorial que contou com a articulação das forças mais reacionárias do Exército Brasileiro, a aliança com a burguesia interna, a influência de órgãos secretos de espionagem e o poder político dos Estados Unidos da América.

Importante lembrar que o Golpe de 1964 não ocorreu por acaso, pelo contrário, foi articulado minuciosamente para conter os avanços sociais em curso no país. Importante lembrar que no início da década de 60, no Governo de João Goulart, a implementação das Reformas de Base pretendia garantir aos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil e também todo o conjunto da sociedade direitos inalienáveis, bem como aumentar a capacidade econômica do país, através do fortalecimento da indústria nacional e ampliação do mercado consumidor interno.
 
Tais medidas foram enfrentadas duramente pela elite nacional e internacional, pois trariam independência e soberania ao nosso país, portanto, foi necessário realizar uma grande campanha difamatória, qualificando a ação de soberania nacional, como um golpe comunista no Brasil, e com isso se legitimaram perante alguma parte da sociedade brasileira.

No Vale do Jequitinhonha o impacto do golpe civil-militar chegou de maneira brutal, pois a articulação destas forças deu ainda mais poder aos coronéis da região e a classe camponesa foi duramente reprimida e impedida de organizar os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, que tinham se multiplicado frente às Reformas que aconteceriam no país.

Muitos foram os lutadores e lutadoras do povo, do campo e da cidade que não se renderam e continuaram a caminhada em busca de justiça social, democracia e liberdade. Vamos recordar algumas pessoas da nossa região que enfrentaram e resistiram ao regime militar, trechos a seguir retirados do Blog do Banu:
Idalício Soares Aranha Filho, militante do PC do B, foi assassinado na Guerrilha do Araguaia, em 1972. Ele era de Rubim, no Baixo Jequitinhonha. Estudou Psicologia, na UFMG, tendo sido liderança estudantil.

Nilmário Miranda, jornalista, de Teófilo Otoni, foi preso e torturado. Depois de 2 anos, foi solto. É deputado federal (PT-MG), tendo sido Ministro dos Direitos Humanos, no governo Lula.
Capitão, amigo carioca de Inocêncio Leite, de Minas Novas, dava aulas no Ginásio Minas Novas. Foi perseguido e assassinado pelo Exército, na Estrada Definitiva, hoje BR 367, perto do hoje Posto Chapadão, em Turmalina, no Alto Jequitinhonha.

O professor Manoel Viana, de Padre Paraíso, foi preso, torturado e tirado de circulação por vários meses. Ameaçado de morte, não soube ou não pôde contar onde esteve. Faleceu em Itaobim, há 3 anos. 


“Quem viveu e queria viver mais corria risco de morte.
A morte era a sina.
Mas a vida saiu por cima.
Embora tantas mortes, tantos cortes.
Criamos o clima,
Da liberdade,
Da solidariedade,
Da manifestação,
Da libertação.”

Atualmente, a luta continua, o regime ditatorial acabou, mas há ainda muitos inimigos a derrotar, o passado ainda se encontra presente em nossa sociedade, muitas leis, muitos valores, muitas práticas ainda continuam, os militares ainda têm muito poder e o conservadorismo aumenta a passos largos, mesmo entre os jovens!!

As vozes da liberdade hoje podem gritar, podem se organizar, se manifestar...pois então façamos uso desta liberdade que custou muito sangue de nossos irmãos e irmãs e transformemos a realidade que sufoca e ainda mata milhões de brasileiros e brasileiras todos os anos.