"A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar."

Dom Hélder Câmaraâmara

domingo, 29 de junho de 2014

Cidona Vive! Exemplo de Resistência, Carinho e Humildade.



Por Geovane Rocha - Comunicador Popular da Cáritas Diocesana de Almenara, Jequitinhonha/MG



Foto: Sara Aguilar
“Eu sou desse jeito, alegre, extrovertida e ágil, e não deixo pra fazer amanhã o que pode ser feito hoje”. Assim foi Cidona, segundo ela mesma. Mulher guerreira, humilde, lutadora, carinhosa, forte e sensível, que dedicou seus 49 anos de vida para que cada família tivesse alimento de qualidade em sua mesa, nem que para isso ela tivesse que abrir mão de seus afazeres. E isso aconteceu diversas vezes. Uma agricultora do Assentamento Franco Duarte em Jequitinhonha/MG e militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e da Cáritas Diocesana de Almenara, que dizia que queria “viver com as famílias e aqui no Franco Duarte até os próximos 100 anos, continuo me organizando porque acredito no povo, acredito na luta do povo. ” Acreditou na mística militante, na alegria popular, na luta e coragem da classe trabalhadora e na força da mulher. Não só acreditou, como se dedicou a esta causa e nos ensinou a beleza da luta pela liberdade. Seus ensinamentos estão conosco, e sempre nos inspirará.
 
Foto: Helen Borborema
É difícil descrever quem foi Cidona, não é fácil achar palavras para contar a emoção de ouvir ela recitar um poema, do arrepio ao vê-la puxando uma palavra de ordem, da ternura de seu abraço, do ecoar do seu cantar, da beleza de seu sorriso e da força de seu olhar. E esta baiana mais amineirada que possa existir se despediu de todos nós da maneira que mais gostava, ajudando e festejando. No momento de sua partida ela estava contribuindo na organização de uma festa, cozinhando, cantando, rebolando e enfeitando o ambiente com bandeirolas e muita alegria. E podia deixar de dançar? Ela mesma comentou naquele dia que “no dia que eu morrer ninguém pode falar que foi por causa de bebida ou cigarro, mas que será de tanto dançar”. Na noite durante o forró, suada de tanto rir e foliar, num momento breve ela partiu, sem sofrimento e agonia, deixando por fim essa bela e árdua caminhada para finalmente poder descansar.

Foto: Decanor Nunes
E ter que despedir dela não foi uma tarefa muito fácil. Mas como tudo que Cidona está envolvida se torna místico, seu cortejo e enterro foram também um momento digno para esta mulher. Ver a multidão presente com um sentimento de saudades pelo momento, mas sem revoltas, cantando as músicas que ela tanto cantou, as profundas e belas orações e os fortes gritos de liberdade, isso tudo com os fogos que pareciam ser soltos para celebrar a alegria dela, além de um pôr-do-sol que foi um presente dos céus, mostrou que a energia de Cidona contagiava o ambiente e cada pessoa presente. Esta “cheirosa”, como ela chamava as pessoas próximas, vai demorar a ser esquecida viu, e isso se ela for um dia (o que duvidamos muito).

Obrigado por tudo Cidona! A semente de união, esperança, força e alegria nunca deixará de estar com cada pessoa teve a bela oportunidade de estar contigo. O povo brasileiro agradece cada entrega e cada riso seu. Gratidão eterna querida companheira, fique em paz!

Foto: Fábio de Almeida



quinta-feira, 12 de junho de 2014

ORGANIZAÇÕES SOCIAIS DO VALE DO JEQUITINHONHA SE REÚNEM NO FÓRUM DO VALE E REAFIRMAM SEU COMPROMETIMENTO COM O PROJETO POPULAR

Por Geovane Rocha - Comunicador Popular da Cáritas Diocesana de Almenara, Jequitinhonha/MG

Com a proposta de unir as organizações sociais do Vale do Jequitinhonha e pensar alternativas populares que afetam a região, Movimentos Sociais, Associações, Entidades de Ensino e Organizações Não Governamentais, Pastorais Sociais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais se reuniram para discutir a realidade do Vale do Jequitinhonha, se formarem e afinamento de ações as entidades da região e fortalecimento político da região. Este encontro, mais conhecido como Fórum do Vale, aconteceu nos dias 10 e 11 de junho na cidade de Joaíma, Minas Gerais.

Dentre as pautas discutidas no Fórum, destaca-se o debate sobre a luta contra o Mineroduto que está acontecendo no Médio Vale Jequitinhonha, o Comitê Regional de Combate ao Uso de Agrotóxico e pela Vida, a Ocupação dos/as Estudantes na UFVJM no campi de Diamantina, o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político e o repasse por região do andamento dos programas de Convivência com o Semiárido, desenvolvidos pelas organizações ligadas a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).

Foto: Diego Alvez

Um ponto a se destacar nesta reunião foi o comprometimento e envolvimento das organizações com o Plebiscito Popular. Após uma tarde de debates sobre a importância de um referendo Soberano e Exclusivo como alternativa a política brasileira, foi organizado um comitê do Vale do Jequitinhonha para organizar o plebiscito. Com uma representação no Baixo e Médio Jequitinhonha, com uma perspectiva de organização no Alto Vale, as organizações conseguiram traçar datas e estratégias para envolver toda população neste importante debate.


Adotando um modelo itinerante, perpassando pelo Médio, Baixo e Alto, a próxima reunião do Fórum do Vale será realizado em Turmalina no mês de setembro.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Seminário Regional denuncia o Uso de Agrotóxicos e anuncia a Agroecologia como solução



 Por Erikson Jardim - Cáritas Diocesana Baixo Jequitinhonha
Realizado no dia 05 de junho (quinta-feira), na cidade de Araçuaí, o Seminário “Contra os Agrotóxicos e Pela Vida: Construindo Alternativas Agroecológicas no Vale do Jequitinhonha”. Organizado pelo Comitê Regional do Vale do Jequitinhonha da Campanha Permanente Contra o Uso de Agrotóxicos e Pela Vida, o seminário teve como objetivo denunciar o uso intensivo de veneno, as monoculturas e o avanço do agronegócio na região, apresentando e construindo alternativas agroecológicas no Vale do Jequitinhonha e reuniu cerca de 150 participantes dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
O Brasil é hexacampeão mundial no consumo dos agrotóxicos, sendo o país que mais utiliza agrotóxicos no mundo. Se pegarmos a quantidade de agrotóxicos que é comercializada e dividirmos pela população brasileira, temos que cada brasileiro consome em média 5,2 litros de agrotóxicos por ano.
Segundo Eliane Novato Silva, Profª Departamento de Bioquímica e Imunologia ICB/UFMG e Coordenadora do Grupo de Estudo Saúde e Trabalho Rural (GESTRA), “a monocultura da soja é a que mais utiliza agrotóxicos, contrariando o mito de que os transgênicos diminuiriam o uso de agrotóxicos, são 350.000 (trezentos e cinquenta mil) litros de agrotóxicos por ano, no milho são utilizados 100.000 (cem mil) litros de agrotóxicos por ano”.
Ainda segundo a Professora “a utilização/aplicação de agrotóxicos e o consumo de alimentos contaminados com venenos prejudicam a saúde da população e o meio ambiente. Os agrotóxicos (organoclorados) tem influência direta no sistema hormonal, causando a puberdade precoce, tem-se observado também uma maior incidência de câncer na zona rural, indicando que a utilização dos agrotóxicos continua”. E finalizou “agrotóxicos não é remédio é veneno”.
O Seu Adão, agricultor, morador do Assentamento Campo Novo em Jequitinhonha, compartilhou sua experiência de transição agroecológica, relatando a importância dos agricultores e agricultoras sempre aprender mais, participando de cursos e intercâmbios e deu uma dica importante! “A casca de ovo seca e moída é um adubo muito rico quando coloca junto com o esterco, as plantas ficam muito mais bonitas e vistosas”, essa experiência fez sucesso entre os presentes.
Maria Eliza Cota, membro do Comitê Regional Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, salienta a importância do Seminário para “aumentar a visibilidade do tema aqui na região, bem como aumentar a aproximação de entidades, agricultores e consumidores na organização da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, somando forças com o Comitê Regional e ampliando o alcance das nossas ações”.
Na parte da tarde, os participantes do Seminário realizaram uma linda passeata pelas ruas de Araçuaí, promovendo o diálogo com a população local e denunciando as práticas agrícolas utilizadas pelo Agronegócio, que envenena nossas águas, degrada nossas terras, promove a monocultura, o trabalho escravo e o deserto verde. Realizando o anúncio das práticas agroecológicas que respeitam a natureza, plantas, animais e o bem viver do ser humano incluindo sua saúde.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

SABERES TRADICIONAIS POPULARES - A VIDA NA NATUREZA POR MEIO DA AGROECOLOGIA EM FELISBURGO

Por Geovane Rocha - Comunicador Popular da Cáritas Diocesana de Almenara, Jequitinhonha/MG


Horta no Assentamento Terra Prometida / Foto: Geovane Rocha
Fazer agricultura é muito mais que produzir alimentos, é uma forma de se relacionar com a natureza, de aprender a cada dia o valor das sementes, da terra e da água, de valorizar o trabalho comunitário e em mutirão. E quando tiramos nosso sustento da terra, pelo cultivo das plantas e da criação de animais, aprendemos a valorizar a natureza da forma como ela merece. Assim é a Agroecologia, uma forma de conviver e viver com a natureza, de produzir alimentos respeitando os valores culturais regionais, sociais e de gênero em que vivemos. É trabalhar com a natureza de uma forma ecológica e sustentável, e claro, sem o uso de adubos químicos e agrotóxicos.

E esta forma de viver e trabalhar acompanha o ser humano a muito tempo, sendo ensinada de pai para filho, de mãe para filha, como fazem as famílias das comunidades do Terra Prometida e do Paraguai, por exemplo, em Felisburgo/MG. Dos ensinamentos trazidos pelo Paraguai, um dos mais forte é a sua prática com a Agroecologia através de seu trabalho com sementes crioulas, principalmente pela Casa de Sementes Comunitária, a diversificação da produção agrícola com hortaliças, mandioca, milho, banana e outras plantas, além do feijão que é a principal cultura da comunidade, e a criação de pequenos animais e produção de mel, são prova disso.

No assentamento Terra Prometida as famílias vêm superando desafios e resistindo ao modelo de sociedade desigual, sendo uma das formas de resistência utilizadas por estas famílias é pela Agroecologia, se organizando de forma familiar e coletiva, através de núcleos e grupos de atividades. A produção é diversificada, produzindo principalmente feijão, milho, hortaliças e frutas. Mas a maior produção é de mandioca, cultura que garante a produção de farinha e goma artesanal. Também se criam animais, como galinha e porco, além do trabalho com abelhas que algumas famílias realizam.
Mutirão no Quilombo do Paraguai / Foto: Geovane Rocha


Toda a produção é realizada sem o uso de agrotóxicos, assegurando alimentação saudável para as famílias do assentamento e para os consumidores da cidade, que têm acesso aos produtos agroecológicos na feira livre. O Terra Prometida e o Paraguai são os principais abastecedores da feira de Felisburgo, que acontece todo Sábado na cidade.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Lições de vida no lançamento do livro dos 10 anos do Projeto MOVA-Brasil em Minas Gerais

Monitores do Núcleo Vale do Jequitinhonha – Sarzedo (2014) durante o lançamento do livro "MOVA Brasil 10 anos: Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos'"
Monitores do Núcleo Vale do Jequitinhonha – Sarzedo (2014) durante o lançamento do livro “MOVA Brasil 10 anos: Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos’
A Formação Geral de Monitores e Coordenadores do MOVA-Brasil do Polo Minas Gerais começou às 9h da manhã do dia 27 de maio, com as apresentações de aspectos característicos de cada um dos quatro núcleos desta etapa. O encontro serviu como uma demonstração da riqueza e da diversidade que têm marcado o Projeto no estado. Foram apresentados poemas, canções, gritos de luta, objetos e outras manifestações culturais próprias dos povos mineiros.
O momento tão esperado pelo polo aconteceu às 9h30: o lançamento do livro dos 10 anos do Projeto MOVA-Brasil. Foi mais um espaço de aprendizagem, com a presença de monitores, coordenadores, equipe do polo, parceiros e convidados.
A mesa de abertura e de diálogo, mediada pela coordenadora do polo, Maria Afonso Oliveira, foi formada por:
  • José Antônio Josef, diretor do Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro/MG) e presidente do Clube dos Empregados da Petrobras;
  • Andreia Sol (ex-coordenadora do Polo MG);
  • Ellen Santos, assessora de educação da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (FETAEMG);
  • Mareli Pinheiro, da Coordenação Regional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST);
  • Conceição Menezes, educadora social da Rede de Educação Cidadã (Recid);
  • Gildo Almeida, da Federação Única dos Petroleiros (FUP), articulador social do Projeto no estado;
  • Amaury Lage, da Gerência de Comunicação Social da Petrobras no estado;
  • Luiz Marine, do Instituto Paulo Freire (IPF) e integrante da Coordenação Pedagógica Nacional.
Todos ressaltaram a necessidade do registro, parabenizaram o Projeto pelo lançamento do livro e destacaram a importância do MOVA-Brasil na história das pessoas (seja como educandos, educadores ou parceiros). Cada um relatou a mudança que o Projeto provocou – e pode provocar – em suas vidas e nas comunidades, como atestam os depoimentos a seguir:
“Eu chamo a atenção dos educadores para que, cada vez mais, possam ter a consciência de que a gente forma provocadores do debate para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos municípios. Temos uma responsabilidade muito grande de recolocar a EJA na pauta dos governos, seja na administração municipal, estadual e até mesmo nacional”.
(Ellen Santos, FETAEMG)

“Quando a minha filhinha nasceu, eu tinha uma moça que trabalhava em casa. Depois de quase dois anos é que eu fui descobrir que ela não sabia ler e escrever. Ela tinha tanta estratégia! E a gente, nessa correria de trabalhar, chegava em casa, corria e voltava… Outro dia é que eu fui descobrir que ela não sabia ver as horas. E o MOVA-Brasil veio pra fazer balançar mesmo! Às vezes, a gente fica preocupada porque o pessoal cobra: ‘Ah, os alunos não tão gostando de ir pra escola não, porque o MOVA era muito melhor’. Qual é essa mexida (que o MOVA-Brasil dá) que a gente também pode fazer pra frente, né?” (em outros espaços educacionais).
(Conceição Menezes, Recid)
Após o círculo de diálogo, houve a entrega solene do livro aos parceiros, convidados, monitores e coordenadores, e os registros fotográficos como mais um momento importante para a memória do Projeto.