"A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar."

Dom Hélder Câmaraâmara

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Hoje somos pretos e pretas!!

Por Dashiell Dayer - Cáritas Baixo  Jequitinhonha

Dia 20 de Novembro é comemorado no Brasil o Dia da Consciência Negra, sendo em muitas cidades feriado municipal. Nessa mesma data, no ano de 1695 morreu Zumbi dos Palmares líder maior do quilombo de Palmares, a primeira e maior comunidade quilombola que se tem notícia na história do país.  Quase 50.000 negros, índios e até alguns brancos resistiram por mais de100 anos às investidas dos exércitos português e holandês e viveram em harmonia com a natureza e com sua cultura ancestral. Zumbi dos Palmares, Dandara sua companheira e líder guerreira, bem como o quilombo, desde então tornaram-se entre os negros no brasil, símbolos de força e resistência pela manutenção e fortalecimento de suas raízes africanas. Uma data simbólica e importante para as pessoas que lutam por uma realidade mais justa para a população negra no Brasil.
É momento de refletirmos sobre nossa origem africana. Os hábitos, costumes, a cosmovisão, a filosofia, a culinária, a música, a religiosidade, são alguns elementos que, apesar de toda a campanha milenar pela negativização africana, está na pele, nos cabelos, nos olhos e no modo de ser do/a brasileiro/a.
A hora é de luta. Segundo o IBGE 2012, 51% da população brasileira é negra. Exigimos respeito com nossa origem, com aqueles que construíram o Brasil. Não podemos ficar em palavras, não é apenas no dia de hoje que devemos lembrar de Zumbi, mas a cada dia, a cada fala de caráter racista que pronunciamos sem pensar. Ao lembrar que os ancestrais fugidos da escravização deixaram um solo sagrado para seus filhos e que estes hoje têm que travar outra batalha pelo seus direitos à terra. Ao ver uma manifestação da religiosidade africana e chamar pejorativamente de “macumba”. Ao falar que alguém tem cabelo “ruim” ou “ pixaim”  pelo fato dele ser crespo. Ao pensar que o papel da mulher negra é o da empregada. Ao entrar num restaurante e ver que os consumidores são todos brancos e os garçons negros e achar isso normal. Ao se constranger quando falar sobre a cor de uma pessoa. “Moreninho”, “escurinha” ... não somos. Somos negros, negras, pretos e pretas. Não é ruim, é o que somos de fato.
A Cáritas do Baixo Jequitinhonha está nessa luta, enfileirada com os Zumbis e as Dandaras, os Bantus e Nagôs que construíram e contribuem para a construção de um país menos europeizado e mais africano.                                                                                                                                                  


                                                                                   

                   Zumbi e Dandara vivem!!!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

30 Anos de Cáritas, 30 anos de luta pela vida no Baixo Jequitinhonha



A Cáritas Diocesana de Almenara em seus 30 anos de atuação no Baixo Jequitinhonha vem trabalhando com grupos de jovens e mulheres, associações comunitárias e movimentos sociais dos 17 municípios da região com ações ligadas ao combate à pobreza e miséria. Estes trabalhos que entendem a pobreza muito além da falta de dinheiro ou comida, mas pela falta de direitos básico atendidos, assistem famílias desde a dificuldade de acesso a água, a terra e a produção de alimentos de qualidade até a formação e emancipação social e política. Vale ressaltar que a população nesta região sofre tamanho descaso não por um esquecimento ou descaso político, mas por uma falta de interesse político em atuar aqui, pois eles são centralizados pelas vontades dos fazendeiros e latifundiários.

Neste cenário, a Cáritas Diocesana de Almenara vem trabalhando junto aos agricultores e agricultoras estimulando a produção de alimentos e o fortalecimento da soberania alimentar, bem como sua organização através da associação de feirantes, organização da feira-livre e do fundo rotativo solidário. Nesta atuação que abrange a parte produtiva, participamos da organização do I Encontro de Agrobiodiversidade do Semiárido Mineiro, onde pudemos contar com a contribuição de agentes Cáritas e camponeses e camponesas da região, debatendo sobre a biodiversidade agrícola e as interferências da mudança climática. Também desenvolvemos projetos em conjunto com as comunidades de Jerusalém (na cidade de Rubim) e Franco Duarte (no município de Jequitinhonha) para implantação de Casas de Sementes Crioulas. Implementou-se também projetos produtivos em avicultura, horticultura e suinocultura, a partir do acesso ao fundo rotativo solidário da associação de feirantes de Jequitinhonha.

Muitas famílias também são atendidas desde 2012 com a construção das Cisternas de Captação de Água de Chuva para consumo, o programa P1MC, que é seguido com a construção de Cisternas para Captação de Água de Chuva para produção agrícola, o P1+2, ambas avançando na conscientização das famílias no cuidado e no uso racional da água bem como práticas de produção agroecológicas e importância de organização social, através do GRH (curso de Gestão de Recursos Hídricos) e do GAPA (Gerenciamento de Água e Produção de Alimentos).

Os direitos humanos estão sendo pautados na região através da Comissão Regional de Direitos Humanos, que é centralizado na cidade de Almenara e conta com a participação da Cáritas Diocesana, das irmãs da cidade, do bispo, escolas e Universidades da cidade, onde já organizou, inclusive, um momento de encontro regional para debater o tema.

O direito a comunicação das comunidades rurais como foco de resistência e luta também estão em nossos trabalhos a muitos anos. A valorização de experiências camponesas da região pelo informativo “Candeeiro” e por “Banners”, bem como a publicação do informativo escrito “Fique de Olho” que tem caráter de anúncio e denúncia regional, além da divulgação dos convênios e arrecadações mensais das prefeituras municipais. A luta pela Reforma Agrária no ar através de rádios livres comunitários é travada, sendo incentivadas e apoiadas em muitas comunidades rurais sua implementação (como o Franco Duarte em Jequitinhonha e Jerusalém em Rubim, por exemplo), além do programa radiofônico semanal “Vozes da Terra” que sempre traz temas de formação e informação para a população da região.




A organização social para emancipação da população também é foco de nossas ações. Trabalhos com juventude dos municípios de Jacinto, Rubim e Palmópolis, principalmente, foram realizados para debater de Arte e Cidadania, sempre na perspectiva de voltar o olhar da juventude para as políticas públicas de seus municípios e comunidades, que não existem para esta geração, na perspectiva da criação de um projeto de vida para o futuro. O trabalho voltado com a organização das mulheres camponesas é desenvolvido nas comunidades rurais de Jequitinhonha, buscando levantar a autoestima das participantes, valorizar seus trabalhos e envolvimento ativo na vida da comunidade. E também sempre nos fizemos presentes nas lutas de rua, tanto em apoio aos movimentos sociais populares quanto em ações com o protagonismo em sintonia com a população não organizada, como o ocorrido nas manifestações que ocorreram em todo Brasil em julho de 2013 e na ocupação da BR-361 no dia nacional de lutas em conjunto ao sindicato dos trabalhadores rurais de Jequitinhonha e representação do MST do Baixo Jequitinhonha.

sábado, 16 de novembro de 2013

PAULO VIVE VIVE VIVE ENTRE NÓS E NAS LUTAS !



Fonte inspiradora : Decanor Nunes , estimulada por Geane – viúva de Paulo Paixão. Jequitinhonha, 16/11/2013.

Hoje, 16 de novembro 2013, completa 01 ano da morte de Paulo Paixão. Paulo dos Santos Paixão, nativo e camponês do Assentamento Franco Duarte/Jequitinhonha-MG, Militante do MST, foi Animador Social do P1+2 (Programa Uma Terra e Duas Águas ) ASABrasil, pela Cáritas Diocesana no Baixo Jequitinhonha, Diocese de Almenara. Por sua e nossa infelicidade, de moto indo para sua casa, sob uma neblina durante a noite, saindo de Jequitinhonha sentido Itaobim, foi surpreendido com um carro de passeio que puxava uma carrocinha, vindo de uma fazenda à beira do Rio Jequitinhonha. O maluco fazendeiro motorista atravessou a sua frente simplesmente, causando sua morte. Até os dias atuais, pouco se tem feito pra desvendar essa morte e punir o culpado caso possa vir ser confirmado pela justiça e protestado e reivindicado pelos movimentos sociais.
A Cáritas Diocesana de Almenara, Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais , ASABrasil e organizações sociais da região e todo povo camponês das comunidades que de modo especial tinha Paulo como um cidadão de bem, educador, animador, pedreiro, militante, poeta, lutador do povo, fica aqui nossa lembrança de memória. Nesse sentido lembramos essa data em que Paulo VIVE  VIVE  VIVE, e nada mais, é a palavra geradora pra dizer não a todo e qualquer tipo de injustiça humana e ambiental. Paulo continua sendo a luta pela terra, pela água, pela paz, pela solidariedade, pela democratização da comunicação, pela soberania alimentar, enfim, por uma sociedade menos desumanizada!
 

“Resista mesmo que tudo esteja contra você. 
  Resista mais um instante”! 
(Poema feito por Paulo durante o massacre de Felisburgo).