Por Geovane Rocha - Comunicador Popular da Cáritas Diocesana de Almenara, Jequitinhonha/MG
Foto: Sara Aguilar |
“Eu sou desse jeito, alegre, extrovertida
e ágil, e não deixo pra fazer amanhã o que pode ser feito hoje”. Assim foi
Cidona, segundo ela mesma. Mulher guerreira, humilde, lutadora, carinhosa, forte
e sensível, que dedicou seus 49 anos de vida para que cada família tivesse
alimento de qualidade em sua mesa, nem que para isso ela tivesse que abrir mão de
seus afazeres. E isso aconteceu diversas vezes. Uma agricultora do Assentamento
Franco Duarte em Jequitinhonha/MG e militante do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e da Cáritas
Diocesana de Almenara, que dizia que queria “viver com as famílias e aqui no Franco
Duarte até os próximos 100 anos, continuo me organizando porque acredito no
povo, acredito na luta do povo. ” Acreditou na mística militante, na alegria
popular, na luta e coragem da classe trabalhadora e na força da mulher. Não só
acreditou, como se dedicou a esta causa e nos ensinou a beleza da luta pela liberdade.
Seus ensinamentos estão conosco, e sempre nos inspirará.
Foto: Helen Borborema |
É difícil descrever quem foi Cidona,
não é fácil achar palavras para contar a emoção de ouvir ela recitar um poema,
do arrepio ao vê-la puxando uma palavra de ordem, da ternura de seu abraço, do
ecoar do seu cantar, da beleza de seu sorriso e da força de seu olhar. E esta
baiana mais amineirada que possa existir se despediu de todos nós da maneira
que mais gostava, ajudando e festejando. No momento de sua partida ela estava contribuindo
na organização de uma festa, cozinhando, cantando, rebolando e enfeitando o
ambiente com bandeirolas e muita alegria. E podia deixar de dançar? Ela mesma
comentou naquele dia que “no dia que eu morrer ninguém pode falar que foi por
causa de bebida ou cigarro, mas que será de tanto dançar”. Na noite durante o
forró, suada de tanto rir e foliar, num momento breve ela partiu, sem
sofrimento e agonia, deixando por fim essa bela e árdua caminhada para
finalmente poder descansar.
Foto: Decanor Nunes |
E ter que despedir dela não foi
uma tarefa muito fácil. Mas como tudo que Cidona está envolvida se torna
místico, seu cortejo e enterro foram também um momento digno para esta mulher.
Ver a multidão presente com um sentimento de saudades pelo momento, mas sem
revoltas, cantando as músicas que ela tanto cantou, as profundas e belas orações
e os fortes gritos de liberdade, isso tudo com os fogos que pareciam ser soltos
para celebrar a alegria dela, além de um pôr-do-sol que foi um presente dos
céus, mostrou que a energia de Cidona contagiava o ambiente e cada pessoa
presente. Esta “cheirosa”, como ela chamava as pessoas próximas, vai demorar a
ser esquecida viu, e isso se ela for um dia (o que duvidamos muito).
Obrigado por tudo Cidona! A
semente de união, esperança, força e alegria nunca deixará de estar com cada
pessoa teve a bela oportunidade de estar contigo. O povo brasileiro agradece
cada entrega e cada riso seu. Gratidão eterna querida companheira, fique em
paz!
Foto: Fábio de Almeida |
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